A Antiga Serpente, a Lei e o Milênio: Uma Leitura no Preterismo Completo

A Antiga Serpente, a Lei e o Milênio: Uma Leitura no Preterismo Completo

Por: Uismael Freire

Quando você lê Apocalipse 20 e encontra a expressão “o dragão, a antiga serpente”, provavelmente vem à mente a cena do Éden. Mas como conectar isso com a lei mosaica e com o período do milênio? É aqui que o preterismo completo e o evangelho da graça consumada nos ajudam a organizar as peças desse quebra-cabeça.

Neste artigo, vamos explorar como a antiga serpente que enganou Eva no Éden encontra seu paralelo na lei mosaica que enganava as nações, e de que forma Cristo desarmou esse poder. Tudo isso com base nas Escrituras e dentro da visão consumada, onde Jesus já reinava nos dias apostólicos.

A frase-chave central é: a lei como a antiga serpente e sua prisão no milênio. Ao longo deste estudo você vai perceber que o engano começou no Éden, se expandiu pela lei, foi amarrado na cruz e completamente vencido em 70 d.C.

A antiga serpente no Éden e o poder do engano

Generated-Image-September-18-2025-8_45AM A Antiga Serpente, a Lei e o Milênio: Uma Leitura no Preterismo Completo

Em Gênesis, a serpente enganou Eva ao prometer conhecimento e autonomia: “sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Esse discurso de justiça própria é exatamente o que Paulo denuncia em Romanos 10:3: “Eles não conheciam a maneira como Deus aceita as pessoas e, por isso, procuraram conseguir a sua própria maneira. E assim não se submeteram à maneira de Deus”.

A serpente introduziu o princípio da autossalvação, que mais tarde se institucionalizou na lei mosaica. Paulo chama isso de “ministério de condenação e de morte” em 2 Coríntios 3:7-9. Assim, o Apocalipse ao falar da “antiga serpente” aponta para esse mesmo sistema de engano.

O estudioso Max R. King comenta que “a serpente não representa apenas uma figura mítica, mas a personificação do pecado pelo sistema da lei”. Essa leitura conecta o Éden ao Apocalipse de forma consumada.

A lei como instrumento de engano das nações

Paulo explica em Romanos 7:11: “Porque o pecado aproveitou a ocasião que o mandamento me deu, enganou-me e, por meio dele, me matou”. O mandamento em si era santo, mas o pecado o usava para aprisionar.

As nações eram enganadas pela lei porque ela criava a ilusão de vida, mas produzia morte (Gálatas 3:21: “Se tivesse sido dada uma lei que pudesse dar vida, então as pessoas seriam aceitas por Deus por meio da lei”). Além disso, ela mantinha todos debaixo de condenação, como diz Gálatas 3:22: “Mas as Escrituras afirmam que o mundo inteiro está dominado pelo pecado”.

William Bell afirma: “O poder do pecado não era um simples conceito abstrato; ele encontrava expressão concreta no sistema legal que escravizava as nações”.

Cristo desarma o poder da lei

Na cruz, Jesus cumpriu toda a lei e desarmou o sistema que condenava. Colossenses 2:14 declara: “Ele cancelou a conta da nossa dívida, com todas as suas regras e regulamentos, que nós não obedecemos. Ele a eliminou, pregando-a na cruz”.

Esse ato foi o ponto jurídico da prisão da antiga serpente. Efésios 2:15 reforça: “Ele derrubou a muralha de inimizade que separava judeus e não judeus. Pois, por meio do sacrifício do seu próprio corpo, Cristo acabou com a lei”.

Don K. Preston observa: “A cruz não apenas tirou o pecado, mas também o instrumento pelo qual o pecado reinava: a lei”.

A prisão da antiga serpente no Apocalipse

Apocalipse 20:3 diz: “O anjo o jogou no abismo, fechou e trancou a porta com uma chave, para que o dragão não enganasse mais os povos até que passassem os mil anos”.

Essa prisão não significa que não haveria mais cegueira espiritual, mas que o sistema da lei não teria mais poder cósmico para dominar as nações. Ele foi juridicamente desativado pela cruz.

Assim, o engano foi limitado, e a pregação apostólica avançou sem a barreira da lei como sistema vigente.

A cegueira ainda presente no período apostólico

Mesmo com a lei juridicamente anulada, Paulo reconhece que alguns ainda estavam cegos. 2 Coríntios 3:14-15 diz: “Mas a mente deles ficou fechada. E, até hoje, quando eles leem os livros da antiga aliança, essa mesma mente fechada ainda cobre a mente deles. Essa cobertura só é tirada quando a pessoa se une com Cristo. Até hoje, sempre que Moisés é lido, essa cobertura está sobre a mente deles”.

Portanto, o poder estava preso, mas os indivíduos que continuavam ligados ao judaísmo ainda experimentavam cegueira.

O reinado com Cristo no milênio apostólico

Durante o chamado “milênio”, que entendemos como o período apostólico, os discípulos reinaram com Cristo. Apocalipse 20:4 descreve: “Eles vieram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos”.

Esse reinado não é futuro, mas espiritual e consumado. Os apóstolos julgavam por meio da pregação do evangelho da graça, libertando pessoas da cegueira da lei.

O fim do engano em 70 d.C.

A destruição de Jerusalém em 70 d.C. marcou o fim definitivo do sistema da lei. Hebreus 8:13 já dizia: “Quando Deus fala de uma nova aliança, é porque já declarou velha a primeira. E o que é velho e está fora de uso desaparecerá logo”.

Esse “logo” se cumpriu no cerco romano. Assim, a antiga serpente que começou enganando Eva foi finalmente derrotada. O reinado de Cristo e dos santos não é um sonho futuro, mas uma realidade consumada.

Conclusão

Você percebe que o fio do engano começou no Éden, ganhou corpo na lei e foi vencido na cruz? Essa verdade liberta: você não vive mais debaixo da lei, nem de obras, mas da graça.

A aplicação para sua vida é simples: não deixe resquícios da antiga serpente enganarem você com justiça própria. Viva plenamente na confiança da obra consumada.

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Uismael Freire é pesquisador independente e escritor com dedicação integral ao estudo das Escrituras, especialmente no campo da escatologia. Nascido em 1969, atuou como pastor por mais de duas décadas no meio evangélico, onde desenvolveu profundo envolvimento com a teologia tradicional. A partir de 2014, iniciou uma transição significativa em sua jornada espiritual, passando a estudar o preterismo completo – corrente teológica que entende que as profecias bíblicas, inclusive as do Apocalipse, já se cumpriram no primeiro século.

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