Desigrejados no Brasil ou crise nas instituições religiosas.

Desigrejados no Brasil ou crise nas instituições religiosas.

Por que Tanta Gente Está Saindo das Igrejas no Brasil?

Por: Uismael Freire

Você já reparou como cada vez mais gente está dizendo que não tem religião? Talvez até você já tenha passado por essa fase de estar meio decepcionado com a igreja, mas ainda acreditar em Deus. Pois é, os dados do Censo de 2022 revelaram que quase 10% da população brasileira se declarou “sem religião”. Mas calma: isso não significa que todo esse povo virou ateu ou agnóstico.

Na verdade, tem um grupo que vem chamando bastante atenção: os desigrejados. Eles continuam acreditando, rezando, orando, buscando espiritualidade, mas estão completamente fora das instituições religiosas. Aba Pai! E o motivo? Nem sempre é falta de fé. Muitas vezes é excesso de trauma, decepção e até abuso espiritual.

Neste artigo, a gente vai mergulhar fundo nesse fenômeno: quem são os desigrejados, por que tanta gente tem abandonado as igrejas, qual o impacto do fundamentalismo religioso nessa saída em massa, e como tudo isso nos desafia a rever o que entendemos por “igreja”. E por que tanta gente jovem está saindo das instituições religiosas e como o avanço do fundamentalismo cristão tem moldado essa transformação silenciosa. Prepare-se para mergulhar em histórias reais, dados surpreendentes e reflexões que podem mudar sua forma de enxergar a espiritualidade no Brasil de hoje.
Spoiler: Deus não mora mais no templo.

1. Quem são os desigrejados?

Vamos direto ao ponto: desigrejados são aquelas pessoas que já foram de alguma igreja seja ela católica, evangélica, pentecostal, batista, presbiteriana, enfim, mas hoje não fazem parte de nenhuma. Elas costumam dizer que continuam acreditando em Deus, muitas vezes em Jesus, mas não querem mais saber de instituição.

Segundo o Censo de 2022, 9,3% da população brasileira se declara sem religião um salto em relação aos 7,9% registrados em 2010. Dentro desse grupo estão os desigrejados, que mantêm sua fé, só que de forma independente.

Eles não se encaixam nos estereótipos. Não são ateus, não são revoltados com Deus. Eles simplesmente não se veem mais na igreja institucional. E os motivos pra isso são vários e bem sérios.

2. Traumas dentro da igreja: quando a fé machuca

Você provavelmente já ouviu alguém dizendo que parou de ir à igreja por causa de “coisas que viu lá dentro”. E acredite, isso é mais comum do que parece.

Tem gente que passou anos frequentando cultos, trabalhando em ministérios, dando dízimo fielmente, mas que um dia saiu ferido. Ferido por líderes autoritários. Ferido por julgamentos. Ferido por escândalos. Ferido por manipulação espiritual.

Uma pessoa me contou que frequentou uma igreja evangélica por mais de 15 anos, mas saiu depois de viver situações que o traumatizaram profundamente. E isso é tão sério que estudiosos chamam de “adoecimento espiritual” quando o ambiente que deveria ser de cura e amor, na verdade causa ansiedade, culpa crônica e até depressão.

3. Quando a igreja vira palanque político

Outro motivo muito citado por quem se desliga das igrejas é o desacordo com o rumo político e doutrinário das lideranças religiosas. Isso se agravou especialmente nos últimos anos com o avanço do fundamentalismo religioso cristão no Brasil.

Muitas igrejas passaram a defender pautas políticas nos púlpitos, a atacar minorias, a demonizar movimentos sociais, e isso tem afastado principalmente os jovens.

Tem gente que olha pro púlpito e não vê mais Jesus ali. Vê partido, vê campanha, vê intolerância. E aí pensa: “Peraí, isso não tem nada a ver com o evangelho que eu conheci”.

4. Fé sem templo: os novos jeitos de ser cristão

Os desigrejados não abandonaram sua espiritualidade. Eles simplesmente recriaram suas formas de viver a fé. Tem gente que ora sozinho, que se reúne em casas, que se conecta com Deus no meio da natureza, no trabalho social, no cuidado com o próximo etc…

Eles dizem que a verdadeira igreja não tem CNPJ, nem hierarquia, nem rituais engessados. Para muitos, Jesus jamais teria se sentado num trono e pedido dízimo em troca de bênção.

5. Juventude em crise: o Censo mostra o impacto

O Censo de 2022 revelou um dado importante: o grupo “sem religião” é majoritariamente jovem, com grande concentração na faixa dos 20 a 24 anos.

Ou seja, os jovens não estão abandonando a fé, mas estão deixando as instituições. Isso mostra que o problema não é com Deus, é com o que fizeram com o nome Dele.

Além disso, os sem religião são mais comuns em grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, e o número é maior entre homens.

6. O problema não é a fé é o abuso dela

O crescimento do grupo dos desigrejados não significa que as pessoas estão perdendo a fé. Na verdade, elas estão tentando protegê-la.

Elas não aguentam mais ver o nome de Jesus usado pra justificar manipulaçõe, abuso de poder e enriquecimento de líderes religiosos.

Como escreveu o teólogo Paul Tillich, um dos maiores pensadores cristãos do século XX:

“A religião muitas vezes é a negação de tudo que é espiritual”.

Ou seja, o problema não é Deus, é a religião que se desconectou do Espírito.

7. A Bíblia diz que é obrigatório ir à igreja?

Essa é uma pergunta que muita gente se faz. E a resposta honesta é: não.

Claro, a comunhão é importante. Mas ela não depende de templo, microfone e liturgia fixa. Paulo, por exemplo, escrevia cartas para igrejas que se reuniam nas casas. Ele mesmo disse:

“Saudai também a igreja que está em sua casa” Romanos 16:5.

E também:

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria” 2 Carta aos Coríntios 9:7.

Não é sobre ritual religioso. É sobre viver em amor.

8. A influência do fundamentalismo: um peso sobre os ombros

O avanço do fundamentalismo no Brasil, principalmente a partir dos anos 90, trouxe um cenário preocupante: igrejas cada vez mais dogmáticas, fechadas ao diálogo, hostis ao diferente.

A teologia do domínio, importada dos Estados Unidos, passou a ganhar força. Nela, a igreja deve governar o mundo, influenciar a política, controlar costumes. Só que esse domínio vem acompanhado de autoritarismo.

A socióloga Nancy Ammerman, especialista em religião nos Estados Unidos, diz:

“O fundamentalismo é um movimento reativo ao pluralismo. Quando a diversidade cresce, a rigidez aumenta.”

E foi isso que aconteceu. Muita gente foi expulsa não com palavras, mas com olhares, com julgamentos, com exclusão.

9. O que dizem os estudiosos no Brasil

No Brasil, o sociólogo Ricardo Mariano, referência em religião, afirma que o crescimento dos “sem religião” está diretamente ligado à falência do modelo institucional autoritário.

Segundo ele, os desigrejados são uma forma de “protesto espiritual”. Gente que não quer virar ateu, mas também não quer ser cúmplice de uma estrutura que oprime.

Essa visão ecoa com o que Paulo diz:

“Examinai tudo. Retende o bem”. 1 Carta aos Tessalonicenses 5:21.

10. E agora? Qual o futuro da fé no Brasil?

A verdade é que a gente está num momento decisivo. A fé não está acabando. Mas ela está mudando de cara.

Os dados do Censo mostram que as instituições religiosas precisam se repensar. A igreja que exclui, que oprime, que impõe medo, não tem futuro. O jovem de hoje quer coerência. Quer amor. Quer liberdade. Se a igreja não oferece isso, o povo de Deus vai viver sua fé nas ruas, nas praças, nas casas, no coração.

Conclusão: fé que rompe muros e constrói pontes

Você que leu até aqui talvez esteja se reconhecendo nessa história. Talvez já tenha se machucado com religião. Talvez ainda ame a Jesus, mas não aguente mais os discursos de ódio disfarçados de evangelho.

Saiba que você não está sozinho. Tem muita gente nesse caminho. E tem muita fé fora do templo também.

Não deixe que os erros da instituição te afastem do amor de Deus. Como disse Paulo:

“Nada poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” Romanos 8:39.

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Uismael Freire é pesquisador independente e escritor com dedicação integral ao estudo das Escrituras, especialmente no campo da escatologia. Nascido em 1969, atuou como pastor por mais de duas décadas no meio evangélico, onde desenvolveu profundo envolvimento com a teologia tradicional. A partir de 2014, iniciou uma transição significativa em sua jornada espiritual, passando a estudar o preterismo completo – corrente teológica que entende que as profecias bíblicas, inclusive as do Apocalipse, já se cumpriram no primeiro século.

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