O Significado de Mateus 24:3 no Grego: Fim do Mundo ou Fim da Era?
Por: Uismael Freire
Se você já leu Mateus 24:3 e ficou confuso com a expressão “fim do mundo”, você não está sozinho. Esse texto sempre foi usado em debates sobre escatologia, principalmente sobre o futuro da humanidade. Mas será que realmente Jesus falou do “fim do mundo”?
Em Mateus 24:3 está escrito: “Quando Jesus estava sentado no monte das Oliveiras, alguns discípulos chegaram perto dele e, em particular, perguntaram: Diga para nós quando será isso. Qual vai ser o sinal da sua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:3).
Quando voltamos ao grego original, descobrimos que há detalhes que não aparecem na tradução portuguesa. E esses detalhes mudam completamente o entendimento do texto. Vamos mergulhar juntos?
O peso da palavra Parousía em Mateus 24:3
A primeira palavra que merece destaque é παρουσία (parousía). No português aparece como “vinda”, mas no grego o sentido é mais rico: presença manifesta.
Não se trata de esperar uma chegada futura, mas da revelação de alguém já presente e atuante. Paulo também usou parousía com esse sentido em 1 Tessalonicenses 4:15. Para ele, a presença de Cristo já se manifestava no contexto da igreja primitiva.
O estudioso Don K. Preston explica que reduzir parousía a uma visita futura descontextualiza o texto, pois Jesus fala de algo que ocorreria naquela geração.
“Fim do mundo” ou “fim da era”?

O grego traz a expressão συντελείας τοῦ αἰῶνος (syntéleias tou aionos). Traduzido como “fim do mundo”, mas literalmente é “consumação da era”.
Perceba: aion não é kosmos. Enquanto kosmos é mundo físico, aion significa era, período, sistema de coisas. Assim, Mateus 24:3 fala da consumação da era judaica, não do fim do planeta.
Ed Stevens, outro estudioso do preterismo, reforça que a destruição de Jerusalém em 70 d.C. marcou o fechamento da antiga aliança e o início da plenitude da nova.
“Estas coisas”: o foco direto no Templo
O pronome grego ταῦτα (tauta) significa “estas coisas”. Ele conecta diretamente a pergunta dos discípulos ao versículo anterior: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: tudo será destruído, e não ficará uma pedra em cima da outra” (Mateus 24:2).
Ou seja, a pergunta deles não era sobre o fim cósmico, mas sobre a destruição do Templo. Isso dá contexto local e histórico para toda a profecia.
O exegeta Max R. King destaca que ignorar o “estas coisas” é desviar a profecia para algo que Jesus não estava respondendo.
O detalhe de “em particular”
Mateus registra que os discípulos falaram κατ’ ἰδίαν (kat’ idían), ou seja, “em particular”. Isso mostra que não foi uma pregação pública, mas uma conversa íntima.
Esse detalhe reforça que Jesus não estava descrevendo eventos globais, mas respondendo perguntas específicas de seus discípulos sobre Jerusalém.
Essa intimidade do ensino mostra o caráter pastoral da profecia: Jesus prepara os seus para um momento histórico, e não para um colapso universal.
Como Paulo usa aion nas suas cartas
Nas epístolas, Paulo reforça essa visão. Em 1 Coríntios 10:11 ele afirma: “Tudo isso aconteceu com eles como exemplo e foi escrito para servir de aviso para nós, pois o fim dos tempos já chegou para nós”.
Paulo não esperava o fim do mundo físico, mas a consumação da era judaica. O “fim dos tempos” já estava em curso no primeiro século.
Esse paralelo entre Jesus em Mateus 24:3 e Paulo em suas cartas confirma que o foco é a transição de alianças.
A importância da tradução correta
Uma má tradução pode gerar doutrinas inteiras equivocadas. “Fim do mundo” criou uma escatologia futurista, enquanto o texto original fala de fim de uma era.
O português não transmite o peso da palavra parousía e nem a precisão de aion. Isso exige que voltemos sempre ao texto grego para não distorcermos o ensino de Jesus.
Essa percepção abre caminho para uma leitura mais coerente e libertadora, onde a consumação já aconteceu na história.
O impacto do grego em nossa escatologia consumada
Quando entendemos Mateus 24:3 em sua língua original, vemos que o texto não fala do fim do planeta, mas do fim da era judaica. Isso encaixa perfeitamente com a escatologia consumada.
Jesus anunciou o fim de um sistema e a revelação plena da sua presença. E isso se cumpriu em 70 d.C., como também reforça Mateus 24:34: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: essas coisas vão acontecer antes de morrerem todos os que agora estão vivos”.
Aqui está a beleza do evangelho consumado: a obra está completa, a presença é real, e vivemos hoje na era da graça.
Conclusão e aplicação pessoal
Você acabou de ver que Mateus 24:3 não fala do “fim do mundo”, mas do “fim da era”. Essa pequena diferença de tradução muda tudo: não estamos esperando o fim do planeta, mas celebrando a consumação da antiga aliança e vivendo plenamente a nova.
E qual a aplicação para você hoje? É simples: viva com confiança. Cristo não te deixou em suspense sobre o futuro. Ele já inaugurou a era da graça, e você é participante dela.
Como disse William Bell, “a vitória de Cristo não está em algo por vir, mas em algo já consumado”.
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Bibliografia
- KING, Max R. The Cross and the Parousia of Christ. Warren, OH: Parkman Road Church of Christ, 1987.
- PRESTON, Don K. We Shall Meet Him in the Air: The Wedding of the King of Kings. Ardmore, OK: JaDon Management, 2009.
- STEVENS, Ed. Expectations Demand a First Century Rapture. Bradford, PA: International Preterist Association, 2006.
- BELL, William. Essays on the Resurrection. Memphis, TN: AllThingsFulfilled, 2010.
- NEUBAUER, Holger. Studies in Biblical Eschatology. Ardmore, OK: JaDon Productions, 2015.
- MacARTHUR, Rod. The Spirit of Prophecy. Portland, OR: Preterist Research Institute, 2013.
- BAUER, Walter; DANKER, Frederick W. (eds.) A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature. 3. ed. Chicago: University of Chicago Press, 2000.
- MARSHALL, I. Howard. New Testament Theology. Downers Grove: InterVarsity Press, 2004.
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