OS QUATRO ANJOS PRESOS JUNTO AO GRANDE RIO EUFRATES

OS QUATRO ANJOS PRESOS JUNTO AO GRANDE RIO EUFRATES

Por: Uismael Freire

“Depois ouvi uma voz que vinha dos quatro cantos do altar de ouro que está diante de Deus. E ela dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: ‘Solte os quatro anjos que estão amarrados perto do grande rio Eufrates.'” (Apocalipse 9:13-14, NTLH)

Você já se perguntou o que João viu quando escreveu isso no livro do Apocalipse? Quatro anjos… amarrados… perto do rio Eufrates? Isso soa mais como o início de um filme épico do que uma profecia bíblica, né?

Mas segura essa: e se eu te dissesse que essa visão pode ter se cumprido com a chegada das legiões romanas que destruíram Jerusalém no ano 70? Isso mesmo. Vamos mergulhar nessa jornada e entender como o cenário apocalíptico, cheio de símbolos e linguagem profética, aponta diretamente para um momento histórico real sangrento, destruidor e… profético.

UM CENÁRIO TENSO: A REBELIÃO JUDAICA COMEÇA

No ano 66 depois de Cristo, os judeus da Judeia decidiram que já tinham aguentado demais. O domínio romano não era fácil: impostos pesados, tropas estrangeiras circulando pelo Templo, e um sentimento constante de humilhação. Eles se revoltaram.

O governador romano da Síria na época, Caio Céstio Galo, tentou conter a rebelião. Mas ao chegar em Jerusalém, ele sofreu uma derrota humilhante na batalha de Bet-Horon e foi forçado a bater em retirada. Isso inflamou ainda mais os ânimos dos judeus parecia que Deus estava com eles.

Mas essa vitória foi curta.

Logo, o imperador Nero designou um de seus melhores generais: Vespasiano. E com ele, vieram as temidas legiões romanas. Vespasiano marchou com a quinta (V) e a décima (X) legião direto para a Galileia, passando o rodo por onde passava.

E se você acha que acabou por aí, calma. Tito Flávio, filho de Vespasiano, se juntou à guerra com a décima quinta (XV) legião conhecida como Apollinaris, dedicada ao deus Apolo. Um deus da guerra e do juízo. Coincidência? Espera mais um pouco…

O ENCONTRO COM O RIO EUFRATES

Você pode estar se perguntando: “Tá, mas o que isso tem a ver com os anjos amarrados no rio Eufrates?”

Simples. Antes da guerra contra os judeus, essas mesmas legiões estavam estacionadas próximas ao rio Eufrates, envolvidas na guerra contra o Império Parta entre os anos 58 e 63. A região do rio era uma zona estratégica, limite entre os dois impérios. Eles cruzaram o Eufrates em direção à Armênia — e quando a missão acabou, estavam prontos para a próxima: destruir Jerusalém.

Quatro legiões. Quatro potências de destruição. Quatro “anjos” preparados para o juízo.

Como escreve o historiador e teólogo R. C. Sproul, “a linguagem simbólica do Apocalipse frequentemente representa forças humanas que atuam sob direção divina. Deus, em sua soberania, usa os reinos da Terra como instrumentos de juízo.” (The Last Days According to Jesus, 1998)

E é exatamente isso que João viu: não anjos espirituais, mas exércitos humanos com poder de anjo destruidores, precisos, impiedosos. Eles estavam “amarrados” até que chegasse a hora certa.

O CERCO DE JERUSALÉM: OS ANJOS SÃO SOLTOS

Lá por 68 d.C., com Vespasiano chamado de volta para Roma durante o conturbado “Ano dos Quatro Imperadores”, Tito assumiu o comando total do cerco. Agora, sob seu controle, estavam quatro legiões poderosas:

  • A quinta legião (V) Macedônica
  • A décima legião (X) Fretensis
  • A décima segunda legião (XII) Fulminata
  • E a mais temida: a décima quinta (XV) Apollinaris

Essas legiões não estavam brincando. Eram tropas de elite, bem treinadas, endurecidas pela guerra com os partas. Já tinham cruzado o Eufrates estavam literalmente “presos junto ao rio”, aguardando o sinal para o ataque final. E agora… estavam soltas.

Tito posicionou três dessas legiões ao oeste de Jerusalém e enviou a X legião para o Monte das Oliveiras, a leste. Isso fechava a cidade. Ninguém entrava, ninguém saía. Um cerco total.

Flávio Josefo, o historiador judeu que estava lá e depois passou a escrever para os romanos, descreve com riqueza de detalhes o que aconteceu: “Foram mais de três milhões de judeus presos dentro de Jerusalém” (Guerra dos Judeus contra os Romanos, Livro 2, cap. 24, parte 186, pág. 1122).

Desses, segundo ele, 1,1 milhão foram mortos. (Guerra dos Judeus, Livro 6, Cap. 45, parte 498, pág. 1382).

Isso bate em cheio com o que o Apocalipse profetizou:

“Um terço da humanidade foi morto por essas três pragas: o fogo, a fumaça e o enxofre que saíam da boca dos cavalos.” (Apocalipse 9:18, NTLH)

Os estudiosos preteristas como David Chilton interpretam essa passagem como sendo uma profecia já cumprida. No seu livro Days of Vengeance, ele afirma:

“Os cavaleiros, os anjos e suas pragas não são seres místicos, mas a expressão do juízo de Deus através dos exércitos humanos. O que João viu, foi a destruição real de Jerusalém.” David Chilton, Days of Vengeance, 1987.

A SIMBOLOGIA DE APOLLO E OS DEUSES DA GUERRA

Agora presta atenção nesse detalhe que muita gente ignora. A XV Legião Apollinaris, aquela que veio com Tito, levava o nome do deus Apolo. Apolo era o deus greco-romano da luz, da arte… mas também da praga e da guerra.

E o mais curioso é que em Apocalipse 9:11, o líder dos exércitos do abismo é chamado de “Abadom” em hebraico e “Apolion” em grego que significa “destruidor”.

“Eles tinham como rei o anjo do mundo dos mortos. O nome dele em hebraico é Abadom, e, em grego, o nome é Apoliom (O Destruidor).” (Apocalipse 9:11, NTLH)

Você acha que é coincidência? Ou João está usando um código para falar das forças romanas, especialmente aquela legião de Apolo, que veio cumprir o papel de destruidora do povo rebelde?

A historiadora Elaine Pagels, em sua obra Revelations: Visions, Prophecy, and Politics in the Book of Revelation, destaca como João usou imagens e nomes de deuses pagãos para atacar diretamente o Império Romano:

“A besta, os anjos, os cavaleiros todos são imagens literárias de um império que se acreditava estar possuído por demônios.” Elaine Pagels, Revelations, 2012.

OS ANJOS NÃO ERAM CELESTIAIS… ERAM ROMANOS

A gente tem mania de imaginar os anjos como seres alados com espadas de fogo. Mas no Apocalipse, essa linguagem é quase sempre simbólica. João escreve como os profetas antigos: usando imagens que comunicam verdades profundas através de figuras de linguagem.

A linguagem “solte os anjos” não significa, necessariamente, libertar espíritos do céu. Pode ser e aqui é onde entra a hermenêutica uma forma de descrever a permissão de Deus para o início do juízo final sobre Jerusalém.

E Jerusalém não era qualquer cidade. Era o coração da religião judaica, o símbolo da Antiga Aliança. A destruição do Templo não foi só um evento militar. Foi um marco espiritual.

O teólogo Kenneth Gentry, defensor da visão preterista parcial, afirma:

“O Apocalipse descreve a queda de Jerusalém como o ponto culminante da rejeição de Cristo pela antiga aliança. Os anjos são a força do juízo de Deus, manifestos em Roma.” Kenneth Gentry, Before Jerusalem Fell, 1998.

A GUERRA QUE TERMINOU UMA ERA

Se você ainda duvidava que aqueles “quatro anjos presos junto ao rio Eufrates” fossem literalmente as quatro legiões romanas, agora fica difícil ignorar as evidências. Eles estavam lá, na fronteira do Eufrates. Estavam em guerra pouco antes da destruição de Jerusalém. E foram eles que selaram o destino da cidade santa em 70 d.C.

A guerra judaico-romana não foi apenas uma tragédia histórica. Ela representou o fim da Antiga Aliança, o término do sistema sacerdotal, o encerramento dos sacrifícios diários, e para quem crê na escatologia preterista a manifestação do juízo de Deus prometido por Jesus.

Lembra de quando Ele falou:

“Eu afirmo a vocês que isto é verdade: todas estas coisas vão acontecer antes de morrerem todos os que agora estão vivos.” (Mateus 24:34, NTLH)

Não tem como fugir: Ele estava falando daquela geração. E o que João viu, em visões, era exatamente esse juízo acontecendo. Era o céu se manifestando na terra através de impérios, espadas e fogo.

O CUMPRIMENTO PROFÉTICO EM DETALHES

Em Apocalipse 9:14, os anjos estão “amarrados junto ao grande rio Eufrates”. Isso aponta para o tempo de contenção: eles ainda não podiam agir.

Mas aí vem o comando divino: “Solta os quatro anjos”. E quando isso acontece? Exatamente quando Jerusalém começa a se cercar de inimigos, conforme descrito também por Jesus:

“Quando vocês virem a cidade de Jerusalém cercada por exércitos, fiquem sabendo que logo ela será destruída.” (Lucas 21:20, NTLH)

A liberação dos “anjos” (ou legiões) representa o momento do juízo liberado um juízo que estava “preso”, retido, mas que chegou com força total.

As quatro legiões V Macedônica, X Fretensis, XII Fulminata e XV Apollinaris são a manifestação histórica dessa profecia.

E para fechar o círculo com maestria, pensa nisso: Apolo, o deus da praga, é o mesmo nome usado em grego para o anjo destruidor do Apocalipse, Apoliom.

Coincidência? Ou uma escolha simbólica genial de João?

A MENSAGEM PARA VOCÊ HOJE

Você pode olhar para tudo isso e pensar: “Mas o que isso tem a ver comigo?”

Tudo.

Porque isso prova que Deus cumpre Suas promessas. Que o juízo prometido veio sobre aquela geração, como Jesus disse. Que o Apocalipse não é um livro de medo, mas de revelação. Revelação de um plano cumprido. De uma justiça executada. E de um novo tempo que se abriu para você.

Hoje, você vive no tempo da graça. A cidade foi destruída, o templo acabou, o sistema sacerdotal foi julgado e agora você é templo do Espírito.

Você não precisa mais esperar o fim do mundo. O fim daquela era já aconteceu. E o começo de uma nova começou com a ressurreição.

CONCLUSÃO: OS QUATRO ANJOS FORAM SOLTOS… E O TEMPLO CAIU

O Apocalipse não precisa mais ser um mistério aterrorizante na sua mente. Ele é uma carta simbólica, rica em códigos, mas cheia de realidade histórica. E nesse caso, a realidade é brutal mas também libertadora.

João viu as legiões romanas sendo soltas como agentes do juízo. Viu o Eufrates como um limite entre contenção e ação. Viu Apoliom não como um espírito no vácuo, mas como o espírito de guerra encarnado num império real.

E agora você viu também.

Se esse artigo mexeu contigo, te desafiou ou te abriu os olhos, então você está no lugar certo. Aqui no blog da Revista Ferramenta Bíblica, a gente não foge das perguntas difíceis a gente encara de frente, com Bíblia na mão e história nos olhos.

CITAÇÕES DOS ESTUDIOSOS USADOS

  1. R. C. SproulThe Last Days According to Jesus, 1998
  2. David ChiltonDays of Vengeance, 1987
  3. Kenneth GentryBefore Jerusalem Fell, 1998
  4. (Extra) Elaine PagelsRevelations, 2012

Quer continuar essa jornada? Clica aqui e mergulha em mais estudos como esse. A próxima revelação pode estar no próximo clique.

Uismael Freire é pesquisador independente e escritor com dedicação integral ao estudo das Escrituras, especialmente no campo da escatologia. Nascido em 1969, atuou como pastor por mais de duas décadas no meio evangélico, onde desenvolveu profundo envolvimento com a teologia tradicional. A partir de 2014, iniciou uma transição significativa em sua jornada espiritual, passando a estudar o preterismo completo – corrente teológica que entende que as profecias bíblicas, inclusive as do Apocalipse, já se cumpriram no primeiro século.

2 comments

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Thyago

Esse estudo é transformador

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    Uismael Freire

    Verdade meu amigo. Eleva nosso entendimento a outro nível.

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